quarta-feira, 11 de março de 2009

Paz


»Um caminho simples, umas pedras cinzentas dispostas ao longo do infindável caminho.
»Céu branco, relva verde à volta, mais nada.
»Não há vento, não há nada. Relaxante. A eterna calma perdura e o vazio mostra-se.

»A andar segue-se pelo trilho cinzento. A paisagem não muda. O nada acarinha a face. Aquela paz que qualquer um já desejou na vida, sufoca.
»A respiração acelera, começa a correr. A paisagem não muda. Nada muda.
»Acelera a corrida, nem um fio de ar atravessa o sentido, os olhos esbugalham com o medo que se lhes atravessa no caminho.

»A Solidão que abraça é esta, esta é a realidade sentida: nada se sente.
»A mente desmancha-se nas três cores que rodeiam. Claustrofobia em espaço aberto.
»O ser tudo faz para sentir algo, qualquer coisa, dor, frio, calor, algo...
»O juízo dentro de si próprio atrofia. Desespero raiado por todo ele, a falta de algo.

»A calma sufoca todas as entranhas, envolve todo o ser, inevitável. Tudo relaxa, da forma mais horrenda, relaxa.
»Calma que flui no sangue, o desejo mais indesejado.
»O ser abranda, a respiração abranda, pouco a pouco pára.
»O último desejo é o sentido, qualquer coisa, dor, frio, calor, algo...
»Agora, o vazio abraça o ser, ele próprio se desvanece na paz do nada.
»Muito leve, quase não se sente um fio da mais calma brisa passa sobre aquele milímetro de pele.
»Agonia, desespero, as lágrimas que não podem correr rebentam do que ainda não desapareceu do ser.
»No último tempo foi-se.
»Agora consome-se, é consumido.

»Desaparece da paradisíaca paz.


»O céu é branco; a relva à volta, verde; as pedras dispostas no infindável caminho, cinzentas.
»Não há vento, não há nada. Relaxante.
»A paisagem não muda, nada muda. Paz.

domingo, 8 de março de 2009

Apego

Era uma luz, mais uma, menos uma. Perguntaram que diferença fazia, não soube responder.
Foi apenas mais uma que apareceu, apareceu e voltou a desaparecer, como tudo.

A diferença.

Eu digo, a diferença foi que reparei nela. Reparei, vi-a. Olhei e senti-a.
Aquela luz foi minha.
Grande, pequena, média, não interessa, foi minha. Isso é todo o necessário para a destacar, é aquilo que não me podem tirar.
É a diferença entre o meu e o teu, a diferença entre ser e não ser.

É o poder daquilo que sentimos demonstrado clara ou distorcidamente, por querer ou não.