segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Perseguição

Pesadelos que assumem formas
Morte anunciada ao destemido,
Pedaço de céu que foi comido
É o risco por aquilo que amas.


»Perseguição desenfreada, à frente as rasgadas e escarpes montanhas cortam o ar como armas de uma teia. Perante reflexos do passado e os sonhos que comportam, o sentido do ser perde-se.
»A perseguição perde rumo enquanto adentra o novo pesadelo.

»Cuidado para não tocar, raspar, arranhar... Agora desviar. Não para esse lado, para o outro. Para cima, não, baixo, lado, aí não, ali, naquele lado, desvia! A montanha vai-se materializando de momentos em momentos cuidando arrancar o coração.

»A presa desaparece de vista, as imagens tomam o seu lugar.
»Quem disse que se estava numa montanha? Disparate. O prado percorre os montes e vales, o verde deslizando sobre ele como um manto de vida. As árvores abanam ao sabor da suave brisa como que saudando o visitante.
»Verde? Não. A cor predominante é aquele castanho venenoso de quem foi tomado pela morte. As árvores não passam de espinhos decrépitos saídos algures da terra. Nem abanam com o sabor da brisa, não há brisa. A morte até o vento levou.

»O relógio anda para trás, dobra-se no tempo. Imagens distorcidas. A realidade altera-se.
»Os sonhos não mais são sonhos, não mais existem. Este é um mundo de pesadelo constante. Os mais horríveis tormentos conhecidos, aqui, são o rouxinol a cantar à alvorada.
»Não se sabe quanto tempo passou, minutos, horas, dias, anos. A morte não matou, ela comeu o ser chupando todas as entranhas.

»Fora

»As montanhas rodeiam novamente, ar! Ás golfadas ele entra, mas já não parece o mesmo ar, nada parece o mesmo. O tempo está parado, nada mexe. O perseguido há muito desapareceu, só os rasgos de pesadelos perduram à volta.
»Outra vez! Os ponteiros mexem-se outra vez, a velocidade retorna na sua igualdade. Já não há o que a suporte. A fraqueza domina, o controlo não existe. Já não há desviar: choca, esbarra, esfola, parte-se, esmaga-se. Sangue fresco é a nova decoração destes espinhos.

»O perseguidor já não existe, cai simplesmente, empalado no pesadelo. O pesadelo decidiu fazer dele sua parte.
»Perseguição vã, o amor escapou-se pelo horror, ou foi consumido pelo mesmo.

2 comentários:

  1. Outra obra de arte!

    Sabes o poder de concentração necessário para o ler decentemente?? É profundo... é como um quadro pintado na mente, mas que nos deixa espaço para imaginar, depois torna-se numa sequência de imagens, numa sequência de sentimentos... uma sequência de partes do teu ser... é lindo á sua maneira... única.

    Nunca tinha lido nada do género... sabes de mais pessoas que escrevam da mesma forma (ou parecido), ou dentro desse estilo? (se não for só teu)?...

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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